Ouvidos moucos
Hoje acordei um tanto louco
Com os ouvidos meio moucos
Nessa manhã de céu cinza fosco
Mais um dia nublado, sem fim, tosco
Sinto-me sarraceno, mouro
Nada além daqui, muito ou pouco
Somente patas e chifres de touro
Que na arena arrancam-me o couro
O que fazer senão parede, tijolo?
Ouvir as águas que passam no monjolo
Que gira e bate, teimoso
Visão do meu dia preguiçoso
Quisera sentir-me intenso, corajoso
Com o coração brioso
Cheirar da flor o aroma gostoso
Sonhara poder estar mais viçoso
Achava estar sempre jocoso
Tudo menos charmoso ou geitoso
De repente o olor de algo cheiroso
Sensação de calor tão prazeiroso
Com os ouvidos menos moucos
Nessa manhã linda de outono
Preciso estar descalço sem rumo, sem prumo
Tento, mas não sei como.