Ouvidos moucos

Hoje acordei um tanto louco

Com os ouvidos meio moucos

Nessa manhã de céu cinza fosco

Mais um dia nublado, sem fim, tosco

Sinto-me sarraceno, mouro

Nada além daqui, muito ou pouco

Somente patas e chifres de touro

Que na arena arrancam-me o couro

O que fazer senão parede, tijolo?

Ouvir as águas que passam no monjolo

Que gira e bate, teimoso

Visão do meu dia preguiçoso

Quisera sentir-me intenso, corajoso

Com o coração brioso

Cheirar da flor o aroma gostoso

Sonhara poder estar mais viçoso

Achava estar sempre jocoso

Tudo menos charmoso ou geitoso

De repente o olor de algo cheiroso

Sensação de calor tão prazeiroso

Com os ouvidos menos moucos

Nessa manhã linda de outono

Preciso estar descalço sem rumo, sem prumo

Tento, mas não sei como.

Fábio Pirajá
Enviado por Fábio Pirajá em 15/10/2007
Reeditado em 15/10/2007
Código do texto: T694746