REANIMAR É PRECISO
Que esperas de mim, ex-vivo?
Tu ainda estás aí, eu sei.
Não reages, talvez planejes morrer.
Sou um estudado doutor.
Tenho a experiência de anos a fio.
Sinto tua vida por um fio.
Não sei ao menos se dela fazes ou não questão,
mas não ligo se tu não ligas não.
És o meu desafio.
Meu lado teimoso que te quer revivescer.
Será o anjo da guarda ou o satanás,
que, nesse momento, me torna assim tão tenaz?
Não há tempo para gastar no pensar do que se faz.
Esvai-se a tentativa de te reanimar.
Dê-me o sinal de teu suspiro.
Saiba eu que vi
o que não foi o teu último respiro.
Os remédios te remedeiam, não o curam,
afetam teu partir, prolongam tua agonia.
Minha luta te atinge, nobre ou vadia,
nem ao menos sei
se o teu descanso incomoda ou adia.
Sou estranho a tua alma, mas trago a rebeldia.
Combater tua volta certa às cinzas.
Move-me a esperança de que algo te aconteça.
Mude teu destino em morte às avessas.
Devolva-te a ilimitada vontade de viver.
A dádiva de consciente respirar.
Acima de tudo, mover, pulsar e conviver.
Algo ou alguém que te permita voltar a sonhar,
partilhar um pouco mais desta dimensão da vida.
Talvez alguém que venha te visitar.
Ou o encanto de uma primeira vez.
Quem sabe a lembrança do fazer não feito,
gere o impulso do querer voltar.
Mesmo que seja para o olhar,
o que ainda não me destes,
terei toda a minha paga...
na certeza de ter tomado o caminho certo.
Sobretudo, se for acompanhado de um sorriso aberto...