Versos Anacrônicos
Os meus olhos se enchem de madrugadas aniladas
e a minha boca de palavras
que apagadas pelo sono se esquecem de acender a luz do sol
Meu rastro permanece na areia onde fabrico meus castelos
não desfiz, não desfaço, não desperto
Estou perto de achar que perturbei o sono pesado do meu mundo
E acho que achei um bom motivo para acreditar nesse absurdo
Depois de tantos chuvas, tanto sóis, tantas curvas, tantos nós
me amarrei nos trilhos do trem que vem carregado de girassóis,
a saber, o tempo
E não preciso explicar porque e nem tento
já que olhar a mesma coisa repetidas vezes
faz a própria coisa se explicar por si só
Não tento tentar o mar com vela e remo;
tapar o tempo com um momento;
alumiar a dor com poesia
Se me desnudo e me contesto
é pra ouvir o inexprimível verso
que espremido pelo Verbo me será alimento no outro dia
Éverton Vidal.