Navegante

Todos estamos num mar

Navegar é preciso, viver se vive

A viagem é a metáfora da vida, e de fato,

Viver é viajar de algum lugar pra algum outro lugar

É trocar de cais

Mas ninguém me ensinou a navegar

Nem meus pais, nem meus livros, nem meus discos

Eles só me deixam mais confusos

Mais estranho

Quando dei por mim estava num porão

De uma antiga embarcação

Acorrentado, remando sozinho no escuro

Cortado por um ínfimo facho de luz

Que escapava da escotilha

La fora o mar, o som das ondas agitadas pelo vento

Quando cheguei aqui?

Eu sei (pelo menos isso)

Por que não antes?

Escolhemos vários cais na vida

Até mesmo oceanos distintos

Exceto o primeiro, o último e outros mais

A gente vai vivendo, infeliz ou contente

Navegar é preciso nesses mares

Saí do porão do navio

Numa tempestade sombria; num temor vazio

Aos poucos vejo o sol

E expurgo os fantasmas de vidas passadas nesta mesma vida

Anseio calmarias, mas estranho

E em terra firme sinto a maresia

Também aprendi a cantar contos de marinheiros

Lendas de mundos distantes e inesquecíveis

Que um dia vou conhecer

Quando aportar pela última vez

(18 de Julho de 2006)