O vazio como arte de sobrevivência
" passamos pelas coisas sem as ver,
gastos como animais envelhecidos...
como frutos de sobra sem sabor
vamos caindo ao chão apodrecidos".
Eugénio de Andrade
Quem mora nesta solidão adiada
com afagos de nostalgia
tendo por companhia
os pássaros feridos de fome
Que esperas
a morte ronceira
ou o marinheiro
que colheu os frutos
da tua primavera
e se afastou em nau catrineta
e que tu teimosamente
continuas esperando
Que se opere em ti o milagre da carne
e então poderás fenecer
e alcançar os verdes prados
que habitam os teus sonhos
e preenchem a solidão
com que coses os teus dias
Rogério Saviniano Telo