SAUDADES DA MAMÃE (Te amo mama)

Ainda tenho medo de andar sozinha
Ainda preciso que alguém me pegue pela mão
Não esqueci as lições da infância,
nem do balde que subia chorando com a água do poço,
cantando a mesma canção
Não me esqueci do sofá cama, aquele vermelho, que
a gente em quatro dormia e brigava a noite na cozinha

Ainda me lembro da primeira poesia
Ainda acordo com o cheiro do seu café
Não esqueci as canções da infância, nem de você na beira da pia,
ou do tanque, na beira do fogão, sempre em pé
Não me esqueci da macarronada aos domingos, aquela
com molho vermelho, que em oito a gente comia

Eu ainda gosto de leite quente com açúcar
Eu ainda preciso muito de você
Lembro-me do cheiro da roupa limpa, passadinha sobre
a cadeira, da canela em pó no arroz doce
Lembro-me das bengalas no saco de pão, dos patos, aqueles
brancos, que bicavam sem machucar

Eu ainda gosto de andar descalço
Eu ainda gosto de pisar no chão
Lembro-me do quebrar dos ovos, dos pintinhos amarelos,
dos pés de bananeira, de espiar pelo vão
Lembro-me dos limões siciliano e do dinheiro em penca,
os gansos brancos no meu encalço

Ainda estou aprendendo a voar
Ainda preciso que alguém me oriente
Não esqueci que eu não queria ser grande, sabe mama?
- Eu ando muito carente, tão descrente
Não esqueci que eu me escondia nas árvores, aquelas
ameixeiras do quintal e você ia me procurar

Ainda estou aprendendo a ser grande
Ainda preciso que você fique comigo
Não me esqueci da lição de casa, de fazer o cabeçalho, mas
não é fácil passar de ano, nem encontrar um amigo
Não me esqueço da oração à noite, ainda que meio cética,
peço a Deus por você, por sua saúde

Eu ainda gosto de banana com canela
Eu ainda sou tua pequena aprendiz
Lembro-me da primeira a quarta professora do grupo
e das medalhas que te faziam feliz
Lembro-me do abacateiro, dos mandruvás, aqueles
verdes, e você sorrindo na janela

Eu ainda gosto muito de circo
Eu ainda sou aquela menina arteira
Lembro-me dos dias passados, das pessoas queridas
que se foram, hoje somos apenas cinco
lembro-me do quintal de casa, da roupa no varal,
da cerca verde de pé de amoreira

Aprendi tantas coisas mama, mas ainda
não aprendi a andar sozinha
Ainda preciso que segure minha mão
Lembro de muitas coisas, mas, jamais vou
lembrar-me de te esquecer
Sempre estarás comigo

Te amo mama.

Neide Mendes