Obras-primas
Do meu ventre nasceu João,
Meu primeiro poema.
Nasceu mirrado,
magrinho e esquálido
Trabalhei-o, burilei-o
Até vê-lo encorpar.
Uma vez robusto,
Um novo soneto
Me subiu à fronte
E assim chegou Nina,
Uma rima pequenina,
Franzina e cabeluda.
Com olhos negros e boca miúda.
Era tão diminuta a pobre criatura
Que pensei não poder trabalhá-la ao esmero.
Mas, pelos céus, estava enganada,
A rima virou canção entoada
Pelos apaixonados além-estrada.
E João, meu primeiro fruto,
Ganhou corpo, luz e cor,
Tornou-se hino de amor.
Até hoje não mais me veio
Tão grande inspiração.
Mesmo assim continuo
vendo e revendo
Cada uma de suas partes,
Recompondo suas rimas,
Trabalhando suas métricas,
Escolhendo as melhores metáforas
Com o sempre sonho
De torná-los obras de arte.