Enquanto as ameixas amadurecem no galho

Enquanto as ameixas amadurecem no galho,

Joca Fumaça se diverte no açude de seu avô.

Já passou da idade de fazer gracinhas,

Acho que é meio lelé da cuca, como dizem,

Mas não faz mal nem a um gafanhoto.

Gosta de ouvir música alta, no fone de ouvido,

Não acorda cedo porque vai deitar tarde,

Masca chicletes de bola (tem de ser colorido),

Anda pelas ruas assoviando como um canário,

Veste calça jeans e tênis azul (só pode ser azul).

Joca Fumaça ganhou fama por causa do trem,

Aquele que passa no quintal da sua casa.

Quando pequeno fugiu um dia e entrou num vagão.

Passou a noite ali e adormeceu.

A mãe, o pai, os tios, a polícia, toda a cidade

Correram atrás para encontrá-lo e nada viram.

Então, no segundo dia, aparece o moleque

Carregado por um maquinista a tiracolo,

Sorrindo e faminto – só na outra paragem

Se deram conta que ele estava no trem.

Levou uma surra tamanha e o apelido ficou.

Essa proeza é contada entre as rodas

Dos bares, das calçadas, nas portas e vidraças.

E o Joca continua suas peraltices de infância,

Mesmo sendo já velho para isso.

E lá vai ele se empoleirar na ameixeira

Enquanto as ameixas amadurecem no galho.

São Paulo, 15 de abril de 2009.

Marcela de Baumont
Enviado por Marcela de Baumont em 17/04/2009
Código do texto: T1544557
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