CALADO FEITO POBRE NA CHUVA
Era uma tão bela menina
De doce olhar que fascina,
Debaixo de sua sombrinha,
Conversava com uma amiga
Ao som da chuva, a cantiga,
Como se falasse sozinha.
Debaixo de uma marquise,
Protegendo-nos daquela crise,
De um tremendo temporal
Que molhava a sua calça jeans,
Que nem tinha o glamour dos cetins,
Mas tinha um glamour natural.
Seus olhos pretos, delineados,
Voltados para mim, calados,
Como se eu não existisse
Pra ela eu fui transparente,
Como se eu não fosse gente,
Foi tudo que seu olhar disse.
Diante daquela formosura
Molhando a sua linda figura,
Aguardando o mais longo estio,
Esperando pelo seu transporte
Como se não existisse a morte
Naquele dia sombrio.
E a chuva nos punha mais perto
Quando apertava em céu aberto,
Ela chegava e se protegia,
Eu chegava e olhava simplesmente,
Calado, prostrado e indolente
Era sua inércia que eu via.
Era um festival de guarda chuvas
Debatendo-se em tapas de luvas,
Num "salve-se quem puder",
E eu olhava somente a beleza
Que lhe dera a mãe natureza
Ao desaguar, em mim, linda mulher.
(YEHORAM)