ZÉ RUELA

Tudo que ele fala é esparrela.

Só fica sério quando tá perto dela,

Seu grande amor, Gabriela.

Quieto só fica quando tá esvaziando a panela.

Pra D´us ele acende uma vela,

Pra mim não paga a parcela,

E foge pulando a janela.

Já levou um monte de sacudidela,

Mas o cabra não tem vergonha, apanha e nunca dá trela.

Um dia amarrou no poste a cadela,

Jogou pra longe sua magricela,

E entrou correndo na capela,

Parou ao lado da mais rica e feia donzela,

Que se chama Daniela,

E lhe ofereceu a sua tutela.

Mas a moça com extrema cautela,

Sabendo que o cidadão é uma mazela,

Puxou da bolsa uma imensa tabela,

Ajeitou com firmeza a lapela,

E gritou para que todos escutassem naquela cidadela.

¨Esse que está ao meu lado é Augusto Ferrela,

Que compra tudo fiado, arroz, feijão e enche a tijela,

Pneu, mansão, pro cavalo uma linda cela,

Roupa, sapato, e água gelada pra guela.

Nunca pagou um tostão, mas hoje botei sentinela.

Ou paga tudo que deve ou sua vida congela,

Casando comigo agora, pintando uma nova aquarela.

Se não, corto todo seu corpo em rodela,

Amarro bem amarrado numa tela,

E faço igual aquela antiga novela;

Afundo no meio do oceano numa caravela

Pra nunca mais ninguém ver a cara desse Zé ruela¨

JULIMAR MORAES
Enviado por JULIMAR MORAES em 06/01/2012
Reeditado em 06/01/2012
Código do texto: T3424968