O ganso e o açude

Meus olhas buscam o oriente,

E o sol nasce onde ela mora;

Quem teme o calor do zênite,

Arderia mais que arde agora?

Meu desejo espreita a fonte,

Ao menor som, o ouvido aguço,

Coração não divisa horizonte,

Perdido, como chinelo de pinguço...

A pele clama pela mesma veste,

Posto que marcada pelo silício;

Seu apelo, pois, ao olhar despe,

Ansiosa, como anão em comício...

Coração esmagado doído fato,

Como dizemos aqui no pampa,

apertado como rato em guampa,

cheirada por focinho de gato....

Mas sei, chegará meu renovo,

ao menos, esperança me ilude;

sairei faceiro como ganso novo,

fazendo sua estreia no açude...