A MUSA SÓ QUERIA ME VENDER UM CARRO

Perdi meu tempo, meu precioso tempo

Interpretando as ondas

Deste oceano imenso

No ir e vir das águas

Só me vinha à mente um único nome

No telefone eu ouvia suas risadas

Dentro de mim, eu me perdi em fantasia

Até que sem a turvação da poesia

Bateu-me a dura realidade

Ela queria apenas me vender um carro

Eu sou poeta, não-pragmático

Gastei com ela meu estoque de lirismo

Fiz uma Amazônia de poemas

Sonhei aqui, ali, acolá

Com a alma mais leve que um passarinho

Até que o dia veio

Mais furioso do que uma motosserra

Quando tudo se tornou deserto

O céu surgiu, límpido e claro

Ela queria apenas me vender um carro

Orei sob as estrelas agradecendo a chance

De ter um amor sincero e doce

Ela era tudo que eu sempre quis

Finalmente, eu fui feliz

Abandonei bebida e cigarro

Porque a musa era contra

Ela me fez mudar de atitude

Tive um incremento de saúde

Mas só ganhei um mísero sarro

Ela queria apenas me vender um carro

Ela queria vender e não era barato

O valor dos beijos e dos abraços

Já estava embutido no preço

Como brinde, ela me garantiu

Que incrementaria no perfume

Para que não se perdessem os momentos

Quando ela já estivesse longe

Vendendo carro para outro otário

Poeta-otário-poeta-otário-poeta

Nunca mais fiz versos, joguei fora a caneta.

Enviado por Jimii em 28/03/2008