Valdete revirada

Pela morte, o choro

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Segue o coro de uivos

Segue o corpo e o cortejo

A defunta de cabelos ruivos

vai carregada em sacolejo

De um lado, sete tias

De outro, mais sete

Já pensando benfeitorias

Com o espólio de Valdete

A cova aberta chama

O caixão tomba na terra

Nem bem plantaram a grama

Foi proclamada a guerra

Não venceram sete dias

E a missa nem foi rezada,

Mas já brigam catorze tias

Pela herança da finada

No caixão revirada,

Valdete fez de ressuscitar

Queria ter com a cambada

Que enriquecera de pernoitar

Engasgou com uma flor e morreu

Não precisava enterrar

Ao purgatório foi de elevador e desceu,

Mas ali não quis ficar

O que fazer, voltar?

O elevador não sobe mais

Bondade na vida foi pouca

Deu esmola a um rapaz

Voltou, inspecionou a sepultura

Nem pedra tinha, nem sua figura,

Mas é que ainda estava fresquinha

A protocolar semeadura

Veio a vizinha confortar

Disse para ler os dizeres da coroa

– Saudades de suas catorze tias –

Ô frasinha mais à toa...

Que jeito tinha senão assombrar

Assustá-las com hora e senha

Tomou o ônibus sem pagar

Com destino Lapa-Penha

Foi no banco dos velhinhos

E o motorista nem a viu

Olhou só a mulherada

Do decote até o quadril

Mas se visse... aposte

Entraria com o ônibus no poste!

Mesmo sem ver, distraiu-se, bateu!

Valdete de novo morreu

Na cama revirada,

Valdete fez de acordar

Queria água filtrada,

Remédio para febre baixar

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 14/11/2013
Reeditado em 07/02/2021
Código do texto: T4570668
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