O milagre do burro
 
Era uma vez um homem preocupado, que chegou num certo povoado.
Trazia consigo muito tormento e uma ideia no pensamento.
Sobre ele sei de uma história diferente guardada aqui na minha mente.
É meio sem pé nem cabeça, mas vamos a ela antes que algo mais aconteça.

É que ele cismou um dia, de vender naquela freguesia,
Um burro sem igual, que dizia estar num distante milharal.
O equino teria muita serventia para aquela aldeia pagã e pobrezinha.
Por isso a mobilização foi tremenda para adquirir a preciosa encomenda.

Eram tempos em que bastava meia palavra e um negócio se consumava.
Dinheiro haveriam de arranjar, mas muito mais era preciso para a compra do muar.
Porém, um benfeitor de certa estância logo ofertou boa importância.
Caridoso, ele completou o dinheiro e repassou para o catireiro.

No dia marcado para buscar o equino, o homem temeu um golpe do destino.
Com medo, teceu mil desculpas pelo jegue: o bicho? Não há quem o pegue!
Mas depois de muitas negativas, os aldeões saíram em comitiva.
Partiram para buscar o produto, receosos das mentiras do matuto.

O caboclo estava mesmo blefando, pois nada se ouvia relinchando.
Já haviam chegado ao milharal quando a surpresa foi total:
Lá estava um espantalho sisudo, feito de pano, capim seco e mudo.
Se aquilo era uma mentira do sujeito, até que o burro era bem feito.

Quando lhe perguntaram o porquê de usar de fraude para vender,
Disse que, se o animal não era de verdade, não quis fazer maldade.
É que precisava de um dinheiro e tinha andado o dia inteiro.
A ideia foi sua e da família, explicou ele com grande maestria:

- Eu tinha um remédio para comprar, pois meu filho tem falta de ar.
Para arranjar dinheiro não vi outra saída, a não ser esta história descabida.
Fizemos este espantalho medonho que não é um animal risonho,
Mas vale muito para nós, diante de uma doença tão atroz.

Ninguém quis entender a situação. Queriam um burro, sem enganação,
Que ficasse no meio da comunidade, atendendo a toda necessidade.
O pessoal se sentindo enganado quis, sem demora, esganar o coitado,
Que não via como tão grande maldade, o que se espalhou pela localidade.

Mas, na hora do linchamento, antes de qualquer ato sangrento,
O que se ouviu foi uma relinchada  bem no meio da palhada.
O animal, remexendo o corpo inteiro, tornou-se vivo e partiu ligeiro,
Alguns cavaleiros assustados, fingiram não acreditar em tamanho fado.

Por fim todos sairam correndo, de medo daquele bicho horrendo.
Foi uma debandada de espanto, com gente gritando para todo canto.
O  povo, mesmo incrédulo, não ousou duvidar, do milagre daquele muar.
E assim o homem, cheio de esperança, salvou a vida de sua criança.


 
Luciano Abreu
Enviado por Luciano Abreu em 17/11/2017
Reeditado em 19/01/2018
Código do texto: T6174446
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