ANALFABETO É CEGO

(Cícero Manoel)

Amigo, eu sou um caboclo,

Eu nunca fui estudado,

Não sei assinar meu nome

Minha escola é roçado,

Mas sei que o analfabeto

É um cego desastrado.

Um dia eu fui à cidade

Para um pouco passear,

Dentro da rodoviária

Cheguei a amarelar,

Me deu uma dor no bucho

Com vontade de cagar.

Minha barriga enrolava

Numa enorme agonia,

Amigo, digo a você,

Eu sofri naquele dia,

Estava já me cagando

Quando encontrei um vigia.

Aí, perguntei a ele

Onde tinha um banheiro,

Ele amostrou-me onde,

Eu saí todo cabreiro,

Lá dentro vi duas portas

Cada uma cum letreiro.

Sem saber ler os letreiros

Uma porta eu empurrei,

A porta bateu no canto

Na hora me assustei

Uma marmota do Cão

Naquela hora avistei.

Na bacia do banheiro

Tinha uma velha sentada,

A velha estava vermelha

Se espremendo aperreada,

Amigo, naquela hora,

Senti a calça cagada.

Amigo, caguei nas calças

Que ficou um bolo atrás,

Aí, a velha gritou:

“Feche essa porta rapaz!

Nesse Brasil não podemos

Nem mesmo cagar em paz!”

A velha ainda me disse:

“Homem vá pro outro lado!

Seu banheiro é à esquerda

Que matuto atrapalhado,

Repare o nome que está

Aí, na porta gravado!”

Fiz meu serviço nas calças

Por que não sabia ler,

Quase morri de vergonha,

Aquilo eu quero esquecer,

Daqui pra frente, as letras,

Estou querendo aprender.

Caboclo eu tô querendo

Aprender a soletrar,

Sabendo ler os letreiros

Vergonha não vou passar,

E no banheiro das donas,

Nunca mais eu vou entrar.

(Sítio Ilha Grande, Santana do Mundaú-AL, 23 de julho de 2009)

Cícero Manoel (Cordelista)
Enviado por Cícero Manoel (Cordelista) em 13/04/2019
Código do texto: T6622852
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.