O NAMORO COM ROSIETE

(Cícero Manoel)

Quando eu fiquei de maior

Nas bandas do meu sertão,

Um dia eu fui um forró

Na casa de Conceição,

Lá eu vi uma donzela

Que era a moça mais bela

De toda a região.

Seu nome era Rosiete,

Bonita igual uma flor,

Filha de Dona Carminha

Com seu Mané Curador,

Um velho muito valente

Que curava toda a gente

Daquele interior.

Ali naquele forró

Pra moça peguei olhar,

Ela me viu e sorriu,

Comecei lhe paquerar.

Tomei uma pinga quente,

Cheguei nela de repente

E falei: — Vamos dançar?

Ela aceitou a dança,

Eu me abufelei com ela.

Ela disse: — Quem é tu?

Eu disse nos olhos dela:

— Alguém que sonha acordado

E que está encantado

Por você mocinha bela.

Dancei com a linda moça

Um xote bem agarrado,

Aí falei: — Me responda,

Você já tem namorado?

Ela disse: — Ainda não.

Só que o meu coração

Tá procurando um amado.

Eu sorri e lhe falei:

— Pois escute o que lhe digo,

Pra ter o seu coração

Enfrento qualquer perigo!

Eu mato pra te ganhar,

Me atrevo a perguntar:

Tu quer namorar comigo?

Ela sorriu no meu ombro

E chegou a me falar:

— Tu quer saber a verdade?

Aceito te namorar!

Pra mim será um prazer,

Mais eu não se te dizer,

Se meu pai vai aceitar!

Aí lhe acochei mais forte

E falei no seu ouvido:

— Então vamos começar

A namorar escondido,

Com seu pai tu vai falar

Aí se ele aceitar

Fica tudo resolvido!

Ela aceitou o namoro,

Aí, dei um beijo nela.

O forró se acabou

E eu me despedi dela.

Na manhã do outro dia

Soube que seu pai queria

Me interrogar com ela.

Bastante longe de mim

A linda moça morava,

Da minha casa pra dela

Mais de uma hora gastava

No meu cavalo alazão

Que naquela região

Encantava e invejava.

Aí selei meu cavalo

E fui pra lá apressado,

Em sua casa seu pai

Me recebeu animado.

Sentei num canto tremendo

E o velho foi dizendo

Numa cadeira sentado:

— Olhe rapaz não empato,

Pode namorar com ela,

Mas vai namorar aqui

Pegando só na mão dela,

Não quero agarramento,

Vou tá a todo momento

Vendo vocês da janela!

Na casa de Rosiete

Todo domingo eu chegava,

Eu me sentava num banco

Ela também se sentava,

Nós ficava conversando

E o velho nos vigiando,

Olhando a gente ficava.

Uma tarde de domingo

Eu cheguei lá com prazer

Sentado ao lado da moça

Fui até anoitecer

Quando eu pensei ir embora

De repente nessa hora

Forte começou chover.

Naquele início de noite

No céu foi grande a zoada,

O relâmpago desceu

Foi bem forte a trovoada,

Por ali eu fui ficando

Com pouco eu tava jantando

Na casa da namorada.

Dez horas me disse o velho:

— Tá forte a chuva lá fora,

Rapaz durma por aqui,

Pode ficar sem demora,

E mesmo se estiar

É perigoso andar

Nessa estrada essa hora.

Uma dormida por lá

Desse modo eu aceitei

A velha trouxe uma rede,

Lá na sala eu armei,

Os velhos foram pra cama,

Levaram a minha dama,

Na rede eu me deitei.

Por volta da meia noite

Da rede cheguei pular,

Saí andando no escuro

Sem quase nada avistar

Numa secura danada

No quarto da namorada

No tato eu fui parar.

Cheguei na beira da cama

Da minha amada tão bela,

Me sentei bem de mansinho

E dei um beijinho nela,

Ela me empurrou ligeiro,

Ascendeu um candeeiro,

Não era ela, era o pai dela!

Seu Mané naquela hora

Me deu logo uma mãozada,

Que eu caí no pé da cama

Com a cara arrebentada

No quarto a velha chegou,

Rosiete se acordou,

Apareceu espantada.

Seu Mané olhou pra mim

E alto chegou dizer:

— Eu sabia muito bem

Que isso ia acontecer!’

Me dando outro bofete,

Disse: — Minha Rosiete,

Você pode esquecer!

Para saber se você

Não era um cabra safado,

Rosiete foi dormir

Nesse quarto aqui do lado,

Vim dormir na cama dela,

Você pensou que era ela,

E acabou sendo enganado!

Ali naquele momento

O namoro se acabou,

De sua casa pra fora

Seu Mané me expulsou,

Do bofete e da mãozada

Fiquei com a cara inchada,

Muito aquilo me ensinou.

Sofrendo por Rosiete

Debaixo da chuva entrei,

Logo peguei meu cavalo

Ligeiro nele montei,

Saí em outra chuvada,

E perto da minha amada,

Nunca mais eu encostei.

(Sítio Ilha Grande, Santana do Mundaú-AL, 6 de julho de 2014)

Cícero Manoel (Cordelista)
Enviado por Cícero Manoel (Cordelista) em 14/04/2019
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