A Alegria

A Alegria

é uma filha da puta escrota

que vive na minha aba,

sempre do meu lado nas festas,

na balada, no barzinho,

mas no momento em que a gente mais precisa dela, cadê?

Onde foi que ela se meteu

quando a minha primeira namorada me deu um pé na bunda,

quando eu perdi o meu primeiro emprego,

quando eu levei o meu primeiro zero em matemática?

Cadê ela

no dia da morte do meu primeiro filho?

A Alegria é um frango de padaria

brilhante e suculento, mas depois que a gente come, o que sobra

é a farofa no dente.

Ela é ambígua como beijo de mulher feia,

instável como o verão do Rio

e efêmera

como todas as tardes de domingo.

A Alegria é a programação da TV das tardes de domingo.

Mania da gente de se apaixonar por quem não vale nada!

Mas se é pra gostar dessa piranha desdentada,

dessa vagaba,

dessa filha da vida,

também vou sacanera.

Vou amá-la, sim,

mas o meu amor vai ser que nem ela,

efêmero, instável, ambíguo.

Vou amá-la como a uma mulher de malandro,

como a uma rameira de rodoviária,

porque aí ela é quem vai me querer,

vai se ajoelhar a meus pés, vai se humilhar,

implorando por um pouco de respeito,

para que eu me entregue totalmente, que eu seja só dela de novo.

E eu alegremente direi: não

e voltarei para a minha melancolia,

que é quem me faz feliz.