Não Morrerei

Eu preciso dormir...

Mas o corpo não quer se entregar a cama...

Eu preciso ensurdecer...

Mas os ouvidos são antenas

Captando todos os mínimos ruídos...

Eu preciso calar...

A voz que grita

Dos lábios inertes...

Ressequidos pela mudez

Preciso calar esse som que sai...

Mudo...

Mas agudo...

Como navalha cortando a pele...

E flui...

Como uma onda gigantesca

E assustadora...

Eu preciso comer...

Mas a boca muda

Se fecha para o som que sai

E para o alimento que entra...

Só a Alma está aberta...

Só ela se alimenta...

E o trapo perece...

Torna-se saco vazio...

Não tão vazio...

Pois a Alma lá dentro engorda...

E eu preciso retirar esse peso...

De cima dos ombros...

De dentro da cabeça...

Da pança que incha...

Murcha...

Cresce...

Desaparece...

Como meu Eu...

Que tento matar todo dia...

Assassinar em grande agonia...

Eu preciso aliviar...

Soltar meus dejetos...

Defecar minhas entranhas féditas...

Lavar a alma... Esvaziar...

Para preencher até saciar...

Eu preciso escrever...

Não um livro...

Escrever idéias, pensamentos,

Raciocínios, devaneios...

Quero escrever...

Pois é quando surto...

É quando alucino...

E posso vomitar e engolir de volta!

Ruminando...

Mas...

Eu preciso viver!

Desprezo a morte.

Quem disse que quero morrer?

Que morte que nada!

Quero viver!

Muito...

E bem...

Não esperem que eu atente contra mim...

Não esperem que eu me exponha ao perigo...

Enlouquecerei um pouco a cada dia...

Até o fim do grande começo...

Há quem diga:

- Cuide-se, ou irás definhar!

Não morrerei!

Nem a Morte este gostinho tem!

Não serei objeto guardado em urna...

Não serei pó e nem cinzas...

Nunca fui metade,

Jamais serei restos.

Serei semente...

Plantada em lodo, lamaçal

Ou num monte de esterco...

Ali... Seja lá onde for...

Renascerei!

Deixem-me viver então...

Seja lá como for...

Pois não há afronta da Morte contra mim...

Eu já limpei meus pés

Na barra de seus vestidos negros!

Deixem-me viver...

Dormir enquanto caminho...

Ouvir com a pele...

Falar com os olhos...

Comer vento...

E também conhecimento...

Então defecarei minha ignorância...

Vomitarei minha arrogância...

Pois só então... Desse modo...

Pra sempre viverei!

- O que é que esta louca grita?

Não queira entender...

Sou impossível de compreender...

E por favor...

Não me compreendam...

Já me acostumei assim!

Deixem-me viver..

E alucinar na vossa sanidade!

Deixem-me cuspir em vossa integridade!

Arregalem os olhos enquanto minha boca espuma...

Corram ou arrancarei a dentadas vossa hipocrisia!

Deixem-me... Louca...

Mas não esperem que eu morra....

Pois não nasci para morrer!

Descabelem-se indignados!

Não há lágrimas em minha face...

Não há derrotas que me enfraqueçam...

Não há frustração... Não há agonia...

Lamentem-se e contentem-se...

Pois na minha rebeldia...

Meu livre arbitrio é minha liberdade.

E mesmo que eu rasteje...

Me arraste para seguir...

Sorrio...

Gargalho...

Pois não vou morrer!

São Paulo, 07 de Maio de 2009.

Ps: Não se assustem! É minha reflexão!

Louca sim: assumida!

Loucos são aqueles que fogem aos padrões, apenas isso...

Vez ou outra comparada a Sylvia Plath ou Florbela Espanca, quem me dera chegar a ponta dos pés delas... Sim, se olhar pelo lado biográfico, como indivíduo, se notar-se a vida, sim: somos parecidas em muito. Menos no talento.

Um detalhe apenas me faz completamente diferente delas:não morrerei! Embora tenha vivido essa estupidez do suicídio precocemente, jamais desejei morrer... Estou viva hoje pois jamais quis morrer! E não morrerei! E minhas mãos... Não me darão a morte... Apenas vida, através das loucas linhas que escrevo.

Shimada Coelho A Alma Nua
Enviado por Shimada Coelho A Alma Nua em 10/05/2009
Reeditado em 10/05/2009
Código do texto: T1585600
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