“Te matei!!!”
 
Eu não te esquecia!
Meu “tudo de mim” te sonhava,
e em todo rosto de mulher eu te via!
Em meus olhos, tudo “teu tudo” emoldurava!
Minha vida te pedia e se perdia,
e cada célula minha te gritava,
te chamava e te implorava!
Por teu pérfido desprezo,
entrei na minh’alma, fechei os olhos,
e te matei...
Tanto te matava quanto te beijava;
tanto te ofendia, tanto te agredia,
como me arrependia,
quanto eu chorava!
Tanto te odiava quanto eu te amava!
Mas eu te matei !
Matei sim!
Tu e teu amor de mim!
Matei meu cansaço, matei teu rosto,
matei tuas lembranças, matei caminhos,
matei passado, momentos, sonhos e ilusões!
Matei! Matei tudo de ti!
Te matei morta! Definivamente!
Te matei de vez da minha vida!
Então docemente,
com toda minha ternura peguei “teu tudo” morto
e em lamentos andei contigo a vagar
pelas veredas úmidas e escuras da minh’alma,
gritando e gemendo a minha dor!
Tanto mais “teu tudo” eu olhava,
quanto mais “meu tudo” chorava!
E te envolvi na mortalha pura e branca do meu amor,
(pois eu te amo)!
Aspergi sobre ti, fragrâncias do meu bem-querer
e mirei com carinho tua pálida e inerte formosura!
E eu te abracei e te beijei, entre áis de dor,
de desespero e de loucura,
como alguém que a ele já nada mais importa!
Beijei teu rosto morto muitas vezes,
lambi tua face, arrumei teus cabelos com a língua!
Muitas vezes beijei sua boca exangue,
boca roxa, sensual, linda, boca de morta!
E aconcheguei a mim teu frio corpo!
E te pranteei pérolas vermelhas de sangue
como uma mãe chora o amado filho recém morto!
Te levei da minh’alma ao canto
 mais lindo do meu jardim!
Ajoelhei-me e ali, fiz a tua sepultura,
 ali mesmo eu te enterrei, e a mim,
te fiz então, para sempre morta!
Desesperado,
 porque eu não podia ficar sem “teu tudo”
esbravejei iras de cólera pelo que te fiz,
e enfurecido eu te vinguei!
Então, sem mais pensar,
eu me morri também...
E me matei !


Athos de Alexandria  18-09-2009