A Prisão

Vou lhes dizer o que eu ouvi enquanto estive lá,

E o que os homens conversavam pelos corredores,

E o que os meus olhos enxergaram,

O que as janelas escondiam,

E as grades protegiam.

Vou lhes contar o que nunca devia ter visto - lá,

E de que maneira eles nos mantiam quietos,

E o quanto nós tinhamos medo deles,

O quanto nos silenciaram,

E nossa voz calaram.

Vou lhes contar porque eles nos mataram lá,

E de como torturaram as nosas mentes frágeis,

E como cegaram nossos olhos para o mundo,

Como deixamos de existir,

E sofremos em silêncio.

Vou lhes contar não sobre ditadura, censura

comunismo, nazismo, budismo, cristianismo,

cientismo, ocidentismo, niilismo, terrorismo,

facismo ou incredulismo.

Vou lhes contar sobre meu exilio em mim;

Lembro-me de uma noite sem estrelas,

e de outra com estrelas; não sei exato agora

em qual delas que tudo aconteceu,

mas, quando acordei já não existiam mais estrelas ou luas;

E os homens circularam com pedaços de mim,

com idéias de mim e projetos de mim.

As minhas unhas ficaram presas na parede,

e eu me calei depois de perder a cabeça;

Fiquei exposto ao meu eu,

E com o medo de meus pesadelos existirem,

Descobri que existiam e não eram poucos

Lá, tudo foi tão real...

Lá, eu fiquei despedaçado,

Por tanto tempo que ainda me faltam pedaços...

Reny Moriarty
Enviado por Reny Moriarty em 09/04/2010
Código do texto: T2187254
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