"O Destino e sua Tesôura"

Duas partes existem assim...

Uma acontece durante o dia

Revelando-te a ruína d´algum fim

Sob muita luz mas sempre sombria!

A outra parte é melancolia

Em tarefa sadia de dormir.

Na madrugada és interceptado

Todo suado em agonia, nostalgia....

Era pois Pesadêlo ou Magia?

Sabias que não devias acordar.

Relutaste contra águas bravas

De lágrimas perdidas no mar.

Sem fim; eterna... é a busca.

Levantas e olhas o espêlho

Tão diamantina a tua córnea

Nada gravado; só o degêlo.

A bôca rubra linda sedutôra...

Cadê?

Daquela lacuna insólita.

Desmedida e amarga...

Queres regressar e já

não és mais dono de si.

Buscaste o teu pastôr; pois ei-lo.

À podar tôda tua liberdade de cão

Deste a tesoura à sua 'protetôra'...

Sob tuas asas fixas e inertes que estão.

Ó armadilha conivente comigo

Fui ao teu encontro e agora

Nem tenho aqui mais abrigo

Restam-me os uivos lá de fora.

Inesgotável e mutante segues

Dentro de ti a calma fingida

Apagaste as labarêdas tôdas

Agora em escárnio prossegues.

A "majestosa saída" tão linda...

Cadê?

Os sapos todos aquietaram-se.

Aquele nosso vulcão repousou.

Não se retumba mais nem a porta

Da batida com a entrada da dôr.

Elástico repousa-te em teu corpo

A mente dura refuga em promessas

Vãs como a aurora volátil, um adôrno

Que para o despertar sempre tem pressa.

Levanta-te e ouves a própria súplica!

Emocionada, tão tôla em desalinho.

Dois passos e lavas a face n´água fria

Nada de nôvo ao redor apenas covardia.

Miras fixo o candelabro em meio ao pó.

A vela acabou derretida e a cêra sumiu

A terra nervosa gemeu tremendo só

E nada mais há: tôda a luz se esvaiu.

O escudo firme para teus dias covardes...

Cadê?

Resta-lhe ranger os dentes !

Pelo lapso esgotas tua demência

Do não-poder de tão tementes

Pois deletada foi toda a ardência.

Sem fôrças levanta-te e olhas o azul

infindo... oras, nasceste guerreiro!

Não temas e chores à sêco mas rindo

Enfeites tuas sôfregas horas de prêto.

E ela sobre teus pecados navegas

Pois tôda risonha na tarde mansa

Soltaste as amarras e agora trafegas

Sob uma carne pôdre e rança.

Nalgum cais quem te negas...

De longe te olha fixo em tua têz

E tu deslizas livre a quaisquer ventos.

Firme pendes para o lado e nada vês.

Envaidecido lembras do pôrto seguro...

Cadê???