Descrição de um dia qualquer V
Olho ao redor e o que vejo
além de mobílias?
Vejo algo tão perceptível
tão… sim a solidão.
Neste quarto frio,
dou goladas de saudade
em um copo de Martini,
e vejo meus pensamentos
divagando pelo ar desabitado
junto com as fitas azuis
de um cigarro.
Será mais um dia qualquer?
Creio que não…
E se for, qual é?
Não tenho nada a temer
a não ser a solidão.
Se todo poeta é louco,
serei como eles…
e perguntarei ao meu botijão…
_ Tá cheio aí?
Imagino que sim,
vazio está a geladeira,
as panelas, a dispensa…
Vazio está o quarto…
A luz pisca,
ameaça queimar,
mas e aí como ficarei
se ainda estou a tentar a rimar.
Mas olhe veja só…
São formigas dentro do meu quarto.
Imagino que solitário não estou.
Mas elas não querem comigo conversar.
Solidão.
Noite e dia.
Dia e noite…
Passa da meia-noite.
E agora quem será?
Adentra um ser
na vila onde moro.
Quem será?
Faz barulho,
muito barulho.
Se fosse eu a cantar
o cibernético do zelador
vinha me tesourar.
Ah! Que se dane
não preciso me comparar.
Venta e…
venta um vento frio.
Mas que barulho!
Tinha de ser uma porta
mas é um portão…
Seriam a mesma cousa?
Alguém para me ajudar…
Que seja…
A porta não fez nhec-nhec…
Mas fez catablam.
Sim pior que o tal de nhec-nhec.
Graças o barulho parou.
Ouço passos…
Ouço vozes…
Ouço tudo…
Ô vizinho abaixa a TV.
Deixe-me ver
a TV junto com você.
Preciso saber
as noticias do mundo.
Ah! Deixa quieto…
Prefiro ficar sem assistir.
Hey, cadê meu Martini?
Acabou… o copo secou
e digo, sem cigarro também estou.
A noite termiou
e agora mais do que nunca
sozinho…
Sem amigos…
Sem cigarro…
Sem Martini…
Ah! Deixa assim.
Enquanto o vento sopra lá fora
aqui dentro rimo sem fim.
De repente um repente…
E mais um dia qualquer
com solidão,
sem televisão, sem amigos,
sem mulher.
Mais um dia
em que mais uma porta
me fez perder
o raciocínio.
Mas em vez de
nhec-nhec
fez
catablam
por fim
Shazam!!!