Devorei a escuridão
Sabia que hoje devorei a escuridão?
Sim com toda fome da tua ausência
No apetite que me deu a demência
Foi ato de glutão, de tolo e bonachão
Devorei com uma boca de sucuri
Inspirado em teu breu mais profundo
Foi de repente, sem aviso, nem percebi
Acho que fui contigo um tolo imundo
Destruí laço com esta faminta mansidão
Sabia que ouço silvos em clarividência?
Sim de duendes imortais da sofreguidão
Mas agora minha fome deu-lhes ciência
Se voltarem aqui verão que nunca menti
Duendes malditos de meu abismo fundo
Dessa mente parada na casa fria que teci
Neste lar que ainda corro e bem te fecundo
Mas hoje o escuro se foi em indigestão
Com dores mortais e cadenciadas de parto
Nesta minha ébria, louca e devassa podridão
Olho campos já bem secos, olhos meus...
Onde estarão as lágrimas? Partiram daqui?
Ainda lembro coisas finas dos olhos teus
Penso que nesta frieza da vida me reparto
Dou o som, um arroto desta escuridão
Depois limpos os lábios sujos e enfarto
Uma indigestão fulminante, breu de saci
Corroeu o estômago que acolheu os seus
Escureceu a alma, assim mais contigo pareci.
Lord Brainron