Pântano Que Há Em Mim
Caminho pela lama gelada,
Enrosco-me em cipós, me prendo aos espinhos
Das flores mortas que habitam
No pântano que há em mim.
Vago por almas desertas, vazias
Visito suas casas sombrias
Cemitérios onde se enterram mistérios
E a podridão de suas mortas vidas.
Abutres pousam ao meu redor
Dançam a marcha fúnebre
Parecem saber de cor
No que a minha mente se resume.
Sei bem o que eles querem
Estão famintos e sedentos
Pelos restos de vida em mim
Que ainda insistem em viver.
Coração bate acelerado, parado
Sangue frio que circula
Queimando-me as artérias
Olhos brilham no escuro, paralisados.
O medo se mistura e se embrulha
Junto aos restos de alimento
Armazenados no meu estômago.
Mas não há o que temer
Diante da certeza do irá acontecer.
Lágrimas de crocodilos
Caem em minhas sujas mãos
Causando comoção, dó, compaixão
Até mesmo aos monstros que no pântano estão.
Hoje eu sei falar a língua deles,
Como diz o ditado, mas de um jeito inusitado:
Morrendo e aprendendo.
Diante de minha insensatez
As mentiras se tornam verdades
Apenas por vaidade
Ou por amor, talvez.
Mas o amor que um dia eu achei sentir
Morreu ou se perdeu por aí
Talvez esteja vagando, pela lama gelada
Do pântano que há em mim.