QUADRO SURREAL
E neste quadro em que o fundo é nu,
Onde pintaram de diáfono, o céu
E as gaivotas como tiras de papel
Esvoaçavam no mar de caruru.
Nas verdejantes pastagens marinhas
Das águas vivas picantes - salpicos
Os pelicanos com peixes nos bicos
Na paisagem das belas tainhas.
As fragatas cruzando as águas bravias
Que estremeciam nelas tão estrondosas
Afundavam de bico e voltavam dolosas
Rebuçadas em suas capas sombrias.
Neste quadro que o sol não brilha
E a noite em que as estrelas são do mar
O mundo incolor que tenta inocular
A mórbida imagem duma inóspita ilha.
O artista que pintou algo surreal
No fundo do peito focava o vazio
Fizera da saudade o ocaso tardio
Para expressar o seu dom natural.
(YEHORAM)