Devaneios

Muitas vezes chego a achar absurdo viver simplesmente vendo as horas passarem por mim. Outras vezes chego a desejar não comer, não dormir para poder ter tempo de fazer tudo que quero. Guardo tanto amor dentro de mim, vou liberando doses pequenas para me abastecer durante os períodos de solidão. Vivo assim porque quero, opção, escolha, chame do que quiser. Lamúrias? Esse é meu combustível para escrever, sigo em frente, dou risadas dos riscos, me atiro virtualmente, pois meu corpo já foi antes de mim. Acredito que você conduz seu destino embora ele já esteja traçado. Esse desejo do desconhecido, mesclado de medo e aflição faz parte do que chamo de inerente ao ser. Nascemos com espírito de caçador, de desafiante, de combatente. Somos guerreiros natos. Sou capaz de pular da cachoeira mais alta e no entanto tenho medo de colher uma rosa do caminho. Quero o simples que nasce do sofisticado, do inexistente sabor que ainda não provei. Quero a gentileza de me sentir única, a cor do vinho tinto, o aroma do sabor, a gota que quase derramou. A lágrima salgada que agora desce do rosto amigo e sereno, transformo tudo num gole só e bebo, bebo da taça de cristal que ninguém vê, tão transparente que parece não existir. Ainda sinto o gosto de algo que provei numa tarde qualquer, o cheiro do encontro no frio daquele dia, onde nuvens rondavam nossas cabeças anunciando a despedida do momento. Olho a taça vazia e consigo ver a última gota que ninguém bebeu.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 16/08/2011
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