Quando Paganini se Embriagou

Meus versos agora são todos de partida.

Tinha tudo para dar certo, mas meu eu dissipou-se nas teorias.

E por isso partir e naquela hora

Havia uma galinha que sabiamente ciscava,

Porém ciscava em busca de alimento

Enquanto eu passei a minha existência toda cavando

Em busca da verdade,

Como se eu escavando pudesse encontrá-la!

E naquela hora eu queria ficar ali imóvel

Contemplando aquela galinha,

Que por alguns minutos me fazia esquecer o escritório

E Tomás de Aquino!

Entretanto a bagagem me pesava e o trem já apontava.

Agora já passada a travessia, diante da xícara muda,

Da porta muda, da minha consciência muda, cerro o punho

E soco o braço da cadeira: “tinha tudo para dar certo!”.

Daqui da minha alma não vejo senão espectros, diante das minhas mão um livro que não me responde nada!

E nem a galinha sábia daqui do cubículo consigo avistar mais!

Deixei algo esquecido por onde passei.

Sim deixei algo!

Alguém deve ter ficado com meus olhos tristes!

Alguma rapariga insana com certeza atreveu-se a guardar

Minha boca em sua caixinha de costura junto com a foto dos seus pais.

Mas eu deixei algo por onde passei!

Talvez a fragrância dos meus gestos, geométricos e sem vida.

Alguém deve ter se espantado,

Sorrido,

Ouvido!