palavras mortas

poderia ser menor que o universo,

poderia ser uma carta de amor não correspondida,

poderia ser lágrimas que caem como cachoeira,

(e um por um momento, chego a pensar que sempre será).

mas é sempre assim.

cálices de vida com o gosto doce do desejo,

vida farta de escolhas e um só caminho a seguir;

beijos se debatendo no muro do egoísmo;

muito pouco resta, a não ser palavras mortas.

para que fingir o que há de mais explícito?

para que fugir do que quero e sinto?

como esquecer aquilo que sempre ressuscito?

porque não me defendo, não me esquivo...?

afinal toda escuridão nos mostra o caminho da luz,

toda câncer nos obriga a busca da cura,

toda dor cabe dentro de um único peito,

enquanto ele bater por aquele sentimento.

toda dor não é dor, enquanto houver sentimento!

não há vingança para sutilezas e desenvolturas

graciosas e vivas como teus olhos e pele.

não há ódio, nem ócio, nem dor em um coração,

enquanto não houver ódio, ócio e dor nos olhos.

o que faremos com o que sempre resta?

o que faremos com o que temos pela frente?

quem de nós atravessou o rio e não se molhou?

qual será o destino de quem se afogou em mágoas?

poderia ser amor,

poderia ser eterno,

mas morreu bebendo o cálice envenenado da vida

e caindo do muro do egoísmo

sobre nossas últimas palavras...

as palavras mortas.