PIJAMA DE FERIDAS
PIJAMA DE FERIDAS
Meus neurônios preservados em cama de espinhos
Vestem-se, doridos, em seu pijama de feridas
Expondo, varrido de vergonha, o álibi dos meus impulsos
As palavras penduradas no guarda-roupa de caveira
Que horroriza a civilidade dos mesquinhos
Na coadoção de suas realidades pesticidas.
A insensatez prende-me à saudade dos reclusos
Ao pai ouvindo a voz do Brasil e não a mídia fofoqueira
À mãe, na oferta de Gessy lever, fruindo da rádio-novela
Ao ferro de brasas da vovó e do açúcar com leite ninho.
Há um fecho-ecler no hidrocéfalo do humano
Que das graníticas celas sua a cara de uva passa
Em atos, de pênis na mente, dignos de um país-favela
Que corroem a probidade ao sabor de um bom vinho
E deixam-nos os restos do chope de fel tributado leviano.
O exceler, alevino, filho de uma anta, estapeia sua raça.
Ando mais perdido que políticos no congresso!
Nem na galáxia de Andrômeda vivo mais distante,...
Vejo as prioridades enfurnadas numa cracolândia
E o ricochete de riquezas desgraçando o miserável
Qual espécime é esse que faz da tristeza um bem expresso?!
Dormem sentimentos em travesseiro de viúva meliante
A deusa da justiça é sonâmbula e venda-se nessa Disneylândia
Onde o pé-de-chinelo é rendido por uma lei ministrável
Onde a educação moral e cívica do Brasil é sonsa
E a vegetabilidade dos caras de peroba é democrática.
As varizes cerebrais que aguçam a minha ignorância
Teimam em compreender qual o tamanho é essa inteligência
Em que o primata ainda possui uma grandeza absconsa
Que ama os seus semelhantes numa religião antipática
E fere a lógica em prol de uma vaidosa recalcitrância...
Meu álibi é o pijama de feridas, desse sistema em obsolescência.
CHICO DE ARRUDA.