A VALA

Sentou na sarjeta

Como se sentisse uma forte dor de cabeça

Imundo, como se fosse lixo

Não sabia mais se era homem ou se era bicho

Levantou oblíquo

Perambulou perdido

Procurando sentido

para seu peito ferido com inchada

Nele já não batia nada

Seu peito era uma vala

A vala

É onde tudo acaba

A vala pode ser grande ou pequena

Mas na vala não cabe seu carro e nem um poema

E nada que valha a pena

Nada que o valha

Fará com que escape da vala

Na vala não tem classe social

Na vala não importa o seu bem patrimonial

Nem matrimonial

Não importa se foi infarto

Câncer, AIDS ou bala, ninguém é imortal

Criança, velho deficiente ou normal

Não tem preconceito à vala

Sentou na sarjeta de frente para vitrine

Olhou seu rosto refletido no espelho

Viu seu rosto, tosco, feio, sentiu cheiro

de esgoto, nojo, bueiro.

Lembrou-se de quando era criança

Melhor tempo da vida sem dúvida é a infância

Escola, namoradas, amores, amigos, festas

Depois veio a faculdade, trabalho, dinheiro, casa

Simplesmente já não vê mais sentido em nada

Sentou na sarjeta de frente para vitrine

Olhou-se nos olhos, sentiu agonia

Sua mente repetia:

Vala! Vala! Vala!

Que vala?

Que bala?

Que valha

Apena ter vivido

Que vala?

Que bala?

Que valha

Apena encontrar sentido

Em qual fala ficou perdido?

Só se ouviu o gemido

Em qual vala encontrará repouso para o seu corpo ferido?

Vala

Que enterra

Sua falha

Vala

Que cala

Pra sempre

Sua

Fala.

Brenner Vasconcelos Alves
Enviado por Brenner Vasconcelos Alves em 14/08/2013
Reeditado em 14/08/2013
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