AS VEZES É DIFÍCIL VER A VIDA NUA E CRUA

Viva! Viva! A vida está Viva!

Vives! Vivemos tu e eu...

A vida louca...

Breve...

Bandida...

Prostituída...

Seja qual for à forma da vida!

O que é a vida?

Uma linha tênue do tempo...

Um momento passageiro da existência...

Um triz... Um risco de giz...

Fugaz! Como o tempo da borboleta.

O rutilar das asas do Beija flor

Um cometa no cosmo a viajar!

A nuvem que passa... Passa... Passa...

O movimento do vento!

O tempo da semente e da flor...

O encontro das águas...

No céu voam as gaivotas... Sabiás... Bem Te-vi!

Também voa o Urubu e lá de cima avista a carniça!

Às vezes é difícil! Ver a vida nua e crua.

Formas disformes... Desconfiguradas!

Na barriga grande da fome... Lombrigas!

Zumbis ascendem o fogo de baixo dos viadutos

Crianças correm atrás da bola da pipa...

Também correm de balas perdidas... Achadas!

Nos corpos tombados na calçada!

Há vida nos estilhaços dos vidros...

A vida é cruel... Maligna... Mendiga...

Revirando o lixo... Fazendo malabarismo na sinaleira.

Nos olhos sem brilho da menina...

Que perdeu a infância roubada... Violentada...

Cruelmente estuprada.

O bêbado que desistiu da vida...

O menino pede um trocado para levar para casa

Será que vai comprar um pão ou uma droga?

Às vezes é difícil ver a vida nua e crua.

Crianças... Velhos e animais abandonados...

Disputando um lugar nas esquinas.

O mundo pede calma!

A natureza dá o recado!

Não aguento maissssssssssssssssss!

A vida tem pressa e faz guerra...

E chora o rebento na maternidade...

É vida chegando!

E na calma do velho sentado...

Recordando o passado!

Passam os carros apressados com os vidros fechados

Enquanto eu olho telas... Aquarelas...

Na fundação do Iberê Camargo.

Bebo toda minha utopia!

Afogo-me em poesia...

Pinto minha vida em perfeita sintonia... Harmonia!

Como as aquarelas ao ar livre de Claude Monet

Sem fome... Sem miséria...Crueldade...Abandono...

Quero lagos... Espelhos d’água e flores!