Jantar a Luz de Velas

Talvez a Morte me console...

Se não consolar, que console ao verme que me come!

Verme de novo? Não, ainda não morri.

Se é que morrer é um verbo onde somos sujeitos ativos.

Quanta besteira!

Na verdade, quem me mata é a morte.

Posso até tentar matá-la, com um pouco de sorte, mas

De que me serviria matar a senhora Morte?

Talvez a vida não demore...

Se demorar, que seja melhor daqui pra frente,

Porque pra trás só existe um dente...

Isso mesmo, um dente...

Mordendo, rasgando, sangrando, chorando...

Espera um minuto... dente chora?

Ah! Isso tudo me explora!

Carne não-putrefata sendo assada sem ao menos... tempero.

Ah!² Isso não me interessa!

Não vou poder degustar o sabor do meu corpo,

Queimado, tostado, torrado e moído sem a mínima pressa...

Escrever loucuras é tudo o que me resta...

Aqui eu termino.

Lá em cima você pode começar a ler tudo mais uma vez...

Não se esqueça das velas... Eu esqueci... nesse meu último momento de sensatez...

Alencar Moraes
Enviado por Alencar Moraes em 15/04/2007
Código do texto: T450745