O t r e m

Vago sem trilhos,

Permaneço só,

Os buracos da estação

Dividem a euforia do cansaço,

O suor que cai do corpo exausto,

Alimenta as janelas da integridade__

Inquieta, rasteja a cobra metálica.

Acende o cigarro

O homem que sentado,

Pacienta à noite,

O mendigo despetalado,

Amassado, sem destino,

Pede sua esperança

De mãos abertas...

Migalhas de coragem,

Farelos de compreensão.

No outro lado

O carteado pede coragem,

A fumaça de palavras

Que escureciam o vagão

Some, ao cruzar

Os limites da cobra.

O tempo alimenta o sono,

Prende bonecos humanos,

Marionetes vivas__

Minutos são horas,

Em segundos cruzo o tempo,

No estômago da serpente de trilhos.

O sonho,

Cai ao parar de estação,

Vestígios do vazio

Some em meio ao

Formigueiro humano,

Gritos ecoam do primeiro

Ao último vagão,

Venda, empréstimo, sermão,

Vaga a madrugada,

Em incompreensível silêncio.

A criança chora o silêncio.

Em meio à multidão,

O vento pede lugar,

A luz do luar,

Sofre atrito, se perde nas sombras

De passarelas__

Segue viagem, inquieto silencio.