Confeiteiro

releio escritos idos e me vejo como fui,

muito normal, como tantos do povo;

embora indignado como a frase do Ruy,

deplorando a maldade que tanto influi,

mas, tiro a crosta da chaga, sangro de novo...

digo, os idos foram e meu verso é agora,

a lupa atual vasculhando meu horizonte;

não que o pretérito se deva jogar fora,

tem seu quinhão valioso, rico, embora,

as circunstâncias mudam o fluxo da fonte...

a natureza não faz assim como se ela fosse,

uma veia volúvel, efêmera e circunstancial;

alma bebendo azedume que o fado trouxe,

não raro, faz com que a fonte de água doce,

verta um tantinho, com uma pitada de sal...

assim, mesclam-se esperança e desespero,

num brilho meio falso como ouro de tolo;

pois, o meio assume com pose de inteiro,

embora, sal de poeta seja mero tempero,

que valoriza, acentua ao sabor do bolo...

assim, passo menos que as batidas do cuco,

pois, mato até tempo nesse bangue-bangue;

depois do tiro assopro a fumaça do trabuco,

e dou sossego para o confeiteiro maluco,

que decora a torta vida, com filetes de sangue...