Tàntaro
Valha-me, sagrada utopia!
Meus sonhos se esquivam
Entre as sombrias ruínas escarpadas
Da insólita ignorância...
Louco, o eixo sintagmático
Perdeu o centro e gira em descompasso
Entre estigmas, dogmas e paradigmas...
Um grito de estrelas rompe o infinito
Reivindicando meus raros olhares.
Pálida, esquálida, esdrúxula;
Minha pobre rima ri de mim;
Mas o meu cavalo não,
Ele relincha e ri da rima,
Enquanto eu, cavaleiro espírito...
Enlatam-me à força, para comerem
A minha morenês ao molho tártaro.
Mas tenho um pedaço de osso duro
Que sempre aparece de surpresa
E corta-lhes a jugular. Vomitam-me...
Ó senhora Dona Sângela, coberta,
Vestida de ouro e prata!
Descobriste em mim essa criança
Que dança e cai como a chuva temporã,
Escorregando pelas calçadas vivas
E se debatendo em enxurrada de espanto
Pelas escadarias do destino insensível;
Dá-me, de novo, uma migalha de sonho juvenil;
Mesmo que seja como eu, invisível e sem rosto,
Para que eu possa ver de novo
A cara da verde-folha face da esperança!
Carlinhos Matogrosso