L  o  u  c  u  r  a
 
 



Eu te toco
Com os tocos
Dos meus olhos baços,
Que já não alcançam
Olhares profundos.
 
Te mostro um caminho
Pra longe do mundo.
 
Tu segues sozinho,
Vazio,
Moribundo,
Pra longe de mim,
Assim.
 
Eu te assopro
Com o que me resta
De ar e de fôlego,
Quase não respiro,
Apenas exalo.
 
Te dou minha brisa,
E então, me calo.
 
Tu fechas os olhos,
A boca e os ouvidos,
Tu crispas os dedos
Pra não me sentir.
 
Eu te provo,
Com a ponta da língua,
Renego minha íngua,
Esqueço da dor.
Queria apenas
Te falar de amor.
 
Tu gritas bem alto,
Eu caio dos saltos.
 
Eu danço uma giga
Por sobre teus sonhos,
Eu canto uma antiga
Canção de ninar
Pra te acordar.
 
Te deixo, sangrando,
Não quero morrer,
Não quero matar
O que ainda resta.
 
Enxugas a testa,
Me enxergas de longe,
Respiras de alívio,
Eu morro no exílio
Do teu bem querer.



 
 
 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 19/09/2016
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