Poesia-Sacra

Quando vens, poesia

Somos só eu e tu.

Equilibramo-nos na corda bamba

Para não cair no abismo onde habita a morte dos poetas.

Porque, se vens, poesia

Os relógios se equivocam

e as horas se acertam em segundos.

Porque só mergulhada em ti, poesia

eu me banho em existência.

Quando vens, poesia

O mundo encontra órbita,

a frivolidade, óbito.

Vem sempre assim, amada!

Vem apenas se quiseres,

Se não puderes te conter!

E deixai que eu morra seca, faminta

Se não desejares vir.

Deixai que eu ande desertos

procurando por palavras belas

enquanto decides se vais voltar a mim e ser só

minha poesia.

Porque quando nos casamos, poesia

Eu já sabia que não serias corriqueira

eu já sabia que eras cara e não tão cotidiana

E, talvez, nem tão minha

Mas não tenho outra liberdade

se não esperar por ti aflita.

Se vens, poesia

Meus dias são milhares de sóis

Minha saliva é fonte eterna

Minhas mãos atravessam todos os seios

E todas as minhas roupas são cobertas de flores.

Vens como estação de semear

E me deixas esperando colher eternidade.