Os contos da Citadela - O Déspota Detestável

Há anos o mesmo chamado

O mesmo grito definhado

Rasgando o silêncio de minha infinidade

E clamando pela minha volta.

Foi numa revolta que me expurgaram

Um conto triste que erroneamente recontaram

Colocando a culpa de toda uma existência

Em alguém que sequer existia.

Dizem eles, e só eles

Que naqueles dias eu reinava soberano;

Que minha megalomania escancarava o aceitável;

Que todos me viam como tirano;

O déspota detestável.

Que obliterava tudo a minha frente

Que observava indiferente enquanto caíam meus iguais.

Um ímpeto desonroso, um golpe fugaz

Dois punhados de nada e um punhado de nada mais

A ira transbordava meus olhos e regava o chão

Onde nenhuma planta nasceria

Onde seria posto nenhum caixão.

Senão o meu.

E hoje, de longe, eu os ouço

Suplicando minha volta depois de tanto tempo.

Um remédio antigo para uma doença nova,

Ou esperança nova numa antiga doença?

Não era indiferença e sim fraqueza

Meus passos estão desesperados como eles

Apaguem as luzes pois hoje a noite é bela.

Estou voltando à Citadela.