TCHAU MARIA
Em nome de Deus, poeta
não te exasperes
com o excesso de injustiças
ou de impunidades.
Não te desesperes
com o abuso de poder
desta
ou
daquela autoridade.
Que te importas a Magnólia?
Ela não te abrirás
as portas da história.
Não te elevarás
a nenhuma glória.
Esqueça-a e venha.
A noite é para o amor.
Esqueça inclusive
meu corpo suado...
cansado,
menstruado.
Derrame em minha sangria
teu esperma que cria.
Esqueça a meretriz que sou.
Porque sou de uma sociedade
prostituta.
Esqueça o poeta que és
porque ser poeta
é não ser nada.
A minha criança chora?
não te importas
é frio, é fome.
Estás sós, poeta
e precisa de compania
e eu, do pão nosso de cada dia.
Não Maria, não posso.
Não alcançaria nenhum prazer
entre choros de crianças.
Aqui, a tua criança
chora de frio e fome.
Lá, chora por liberdade
a criança da Magnólia.
Não Maria, não posso;
vou continuar na solidão.
Exasperadamente só.
Desesperadamente sozinho.
Também tenho fome, Maria.
Fome por Justiça.
Justiça Social.
Tchau Maria.
Maria... Tchau.
Ataliba Campos Lima
14/01/95
Apoio Cultural www.jornalnovafronteira.com.br