o ponto de ônibus
subi no ônibus e não tem lugar
na vida também não tem
lugar pra parar e ficar
os minutos correm
com o tempo que se dissolve
e a praça ficou longe
com os dígitos trocando
a janela anda com a paisagem
brincando com o sol que troca de lado
e a sombra teima em não levar o calor
que pinga no meu rosto
as idéias derramam-se
e se soltam da boca
como bolhas no ar
bicicleta e carrinho
mais carroça de pipoca
e o Zé da esquina vende seu milho
queria comprar paciência a quilo
e ser sábia e quieta como um lago
passou do ponto
e te vi à minha espera
olhando pro lado
de onde deveria chegar
e eu me pergunto
se algum dia conseguirei
descer do ônibus
no lugar certo!...
dalila balekjian
do livro meta morfoses