Sou o que sou

Sou o que sou

Murado por ferro

Semeado por trigo

Armado e sem perigo

Preso a terra

Entre pernas e umbigo

Decomposto e corrompido

Como um corpo no jazigo

Sou o que sou

Uso pernas e chicote

Encobertos num véu

De puro e doce mel

Presa à boca

Feroz língua de fel

Solta, a voz de menestrel

Traço sons em tons-pastel

Sou o que sou

Corrente e talismã

Furtada de um lar e

Largada na mesa de um bar

Finjo que sou

Astral e material

Que vivo dormindo

E acordo num sonho real

Sou o que sou

Reticente e volúvel

Saboroso e amargo

Feito um café solúvel

Livre estou

Num demônio angelical

Cruzo o céu de um abismo

Desprezando o bem e o mal

Gê Muniz
Enviado por Gê Muniz em 04/11/2007
Reeditado em 04/11/2007
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