O Nevoeiro

O nevoeiro é sublime em seu silêncio...

É tudo magnífico na vastidão do silêncio...

As coisas como são em um instante qualquer...

O ápice da minha capacdidade de compreender...

São apenas sonhos os valores do meu código...

Sonhos que eu vislumbro numa lenta caminhada...

Emoções arrancadas de sua essência. Tudo vazio...

E os gritos de liberdade decepados a golpes de espada!

Intransigências e impaciências...

Ignorâncias e intolerâncias...

A necessidade de ter acima de tudo mais...

Este é o mundo dos meus iguais...

O bom-senso transformado em alegoria...

O tabuleiro armado e as peças paradas...

Não se vê o passar do tempo e não se sabe se ele passa...

Todos hipnotizados pela maldita tevê das chacinas em massa!

Ódio semeado pelas ruas e pelas intenções...

Vidas desperdiçadas mutiladas por novos grilhões...

Pouco se sabe do mundo que acontece de verdade...

Com o passar do tempo todos estamos cedendo...

E meu bastião se arruína... Os pilares estão trincados...

Há pouco eu senti o tempo passar...

Veio como navalha e me envelheceu...

Meus olhos se enfraquecem e o peso é forte...

Eu sinto, sinceramente, o sussurrar da morte...

Pena... e sangue... e papel...

Eu caminhei pelo verso supremo...

Estive no inferno e estive no céu...

E é no verso, meu cárcere, que eu consigo falar...

Minha lágrima ainda mancha meus escritos...

E a mancha começa a obscurecer minha visão...

Eu começo a deixar de lutar, começando a acabar...

A grandeza de um homem está em se desvencilhar...

A grandeza de um homem está em se fazer valer...

Mas a Sombra é densa e se alastra sorrateira...

E começa a apunhalar os valores de uma vida inteira!

E ainda me dizem de um tal deus lá no céu...

Que se faz cego diante das lágrimas de sangue no papel...

Enquanto eu e meu código vivemos loucos num bordel...

Eu gosto daquele nevoeiro...

Sinto a bruma, sinto seu pesar...

O frio do silêncio da madrugada...

O palco de batalhas a se travar...

Uma trova para meus versos...

Um réquiem para seu autor...

Uma ode para os dias passados...

Uma valsa para sonhar, por favor...