Implosão (insanidade)

Sou mero relato perambulante...

Relato do mundo do simplório...

Relato do mundo do importante...

Sou cotidiano dos milhares e milhões...

Sou mármore e granito, povo e Estado...

Sou faísca, fogo, incêndio e explosões...

Sou prosa e poesia, prece e pecado...

Traços rascunhados em uma tela de pintura...

Trincos em solo árido abrigo de uma rosa...

Espelho d'água em um dia de temporal...

Farpas de diamante espalhadas pelo chão...

Sou a grandeza de um singelo anoitecer...

Sou a pureza de uma guerra sangrenta...

Sou o reflexo de meus tantos outros eus...

Sou relato do cotidiano da inexistência de deus...

Faço aço e luto em luto...

Choro lágrimas de fogo...

Laço e caço e furto em surto...

Sou jogador deste jogo...

Mero observador do passar dos momentos...

Açoitador real da reles realeza...

Mero torturador de todos os sentimentos...

Estuprador da pureza e da beleza...

Vislumbres e relances de uma troca de olhares...

E andarilho perdido na majestade de todos os lugares...

Testemunha infiel da grandeza dos poderosos mares...

Ao largo da orla eu difamo a paz da praia...

Em dias de trovão e tempestade sou a chuva...

E desafio aos gritos a tormenta que ensaia...

Sem mais para o momento...

Despeço-me com cordial abraço...

Perdoa-me por este lamento...

Sou tudo que penso, tudo que faço!