Um Réquiem para 2007

Vem aí o ano que se vai...

Os sonhos de dias melhores...

Os sonhos de grandes amores...

Os lamentos do tempo passado...

O jardim sem as suas flores...

Sentir o tempo nas veias dói...

Quando segundos tornam-se farpas...

E minutos tornam-se ardente fogo...

Sentir o tempo na alma me corrói...

O grande registro dos dias que se foram...

Quando eu era apenas terra sem vida...

Quando eu o mar era mudo e o céu era surdo...

Quanto me custa registrar o tempo na poesia?

Passar dias vendo-o passar sorrateiro...

Quanto me custa transformar vida em fantasia?

Passar os anos destruindo futuros inteiros!

Um náufrago em um mar de tormenta inimaginável...

Os passos na rua e o som dos trovões...

Amanhecer em dia de sol e dormir sob o céu nublado...

Fazer do mais sóbrio momento algo fabuloso...

Chorar lágrimas de ódio, amor, dor e ouro...

Rir da minha desgraçada condição...

Fazer verso ao custo de amizades, amores e paixão!

Fazer verso ao custo da vida em sociedade, uma ilusão!

Sangue em chamas que arde na carne...

Gotas de privilégio e sacrilégio...

Do escarlate vivo ao rubro da morte...

Vitae sacroprofano, um sopro de sorte...

Meus sussurros ouvidos pelos ventos do horizonte...

No limiar de minha loucura sou soldado no fronte...

Ao custo da guerra inteira vale-me um vislumbre singelo...

Quando as bandeiras caem e torno-me o arauto flagelo...

Misérias entre os valores morais...

Jogos de graças e desgraças dos imortais...

Pessoas falando o que eu tenho que fazer...

Deixando-me os traços da loucura primordial...

Quando os senhores da terra fizeram o tempo...

E dele criou-se minha mente, um rastro do mal...

Vem aí outro ano, apenas um outro mero relato...

E sou agora relator das minhas mentiras...

Impulso natural, um incontrolável assassinato...

E agora sou relator das minhas mentiras...

Faço meus versos, choro meus versos, fato a fato...

Por onde eu me perdi nesta vida dizimada?

Sou um sussurro de verdade maculada...

Sou a maldição da poesia doentia e sagrada!