Velejo e Erro, Verso Abrigo (incandescente)

VELEJO E ERRO, VERSO ABRIGO (INCANDESCENTE)

Há tristeza no meu olhar...

Estou louco.. Perdido e alucinado...

Sou mais que mero pecado...

Sou também o resto do último soldado...

Luto corajoso, luto honrado...

Sou mais que os dias do passado...

Sou resultado absoluto de minhas escolhas...

Sou o maior senhor do meu caminho...

Eu luto uma guerra atemporal...

Eu luto, mato e morro...

Erguendo meu estandarte sozinho!

Procuro por algo além da minha compreensão...

Procuro sentir o mundo em sua plena explosão...

Acredito nos amores de instantes segundos...

Acredito nos dissabores de toda desilusão...

Há pouco fui atormentado por sacra-traição...

Golpes impiedosos de miserável decepção...

Quando as escolhas seguem os impulsos...

E a maior vítima ainda é a torturada Razão...

Confesso esperar demais de algumas pessoas...

E esse é o maior erro numa relação...

Quando se confia demais nos outros...

E abre-se mão da própria visão...

Mas o tempo corre surdo aos meus gritos...

E parece que o mundo está cada vez menor...

Sinto que há pouco tempo para meus instintos...

Ando escrevendo mais que devia...

Mas há vício no verso pobre coitado...

Sou incandescência, selvagem poesia...

Queria que pudesse sentir minhas lágrimas...

Sentí-las rasgando a alma e perfurando o coração...

Como lanças arremeçadas por tiros de canhão...

Quando velejo no verso eu sou exímio navegador...

Meu erro é acreditar que outros velejem por mim...

Ao primeiro sinal do vento ruína avassalador...

Largam-me em minha loucura, abandonado até o fim...

Quisera eu que as coisas pudessem ser esquecidas...

Mas há muito nessa luta... Há coisas demais...

Não posso esquecer os motins de almas vencidas...

Não posso levá-los ao meu mais secreto cais...

Velejo e erro...

Sou sombra e luz...

Velejo e erro...

Só o Verso me conduz...

Sou sanguinário e solitário...

Sou franco defensor da verdade...

Incapaz de ser de mim um falsário...

E vejo que é rara a verdadeira amizade...

Poucos os dias de genuína felicidade...

Obscurecidos pela falta de confiança...

Não se pensa mais em lealdade...

E também não penso haver mais esperança...

São valores, meu amigo, meu irmão...

Não são penas opiniões diversas...

São marcas a ferro e fogo no coração...

E para tanto ergo um verso-muralha...

Porque há inimigos contra os quais lutar...

Mas eu jamais nego uma nobre batalha...

Seja em terra, céu, fogo, loucura ou mar...

No entanto compreendo o código a zelar...

Nele a honra é fator simplesmente primordial...

Então não me resta dos desonrados apenas desdenhar...

Porque nessa luta a honra é cláusula imortal...

Venho aqui incomodar tantos de vocês...

Apenas para abrir minha mente enlouquecida...

Nunca trago respostas entre tantos porquês...

Meu verso é mais que minha vida entristecida...

Aos que são falsos comigo eu desejo distância...

Então entendam meu pedido, por favor...

Abandonem-me já, os falsos, por qualquer importância...

Nessa falsidade não há luta, apenas dor... e horror.

Queria sentir o cheiro das manhãs passadas...

Queria sentir o calor de paixões largadas...

Queria ser alguém que não sou capaz de ser...

Queria apenas sentir que vale a pena viver...

No auge de minha agonia eu ainda venho versar...

Talvez não me restem amigos, nem me reste piedade...

Não entendo o que me motiva a tentar sonhar...

Talvez um vislumbre errôneo de serenidade...

Peço ajuda a quem queira realmente me ajudar...

Palavras de um louco estupradas sob o luar...

Queria chorar mas não consigo...

Lamento mais uma vez...

Lamento mais uma vez num verso abrigo.