(Re)Dimensão

Tenho certeza que já vivi outras vidas, situações repetidas

Como nômade no deserto, perambulo por mundos, alternativas

Sei que não basta conhecer o caminho, é necessário receio, cuidado

Hoje minha intuição parece faca sem afiação, um tanto cega, fraca

Sou outro ser, empoleirado em velho armário, vinil empenado, exposição ao sol

Mas também posso ser cofre sem segredo, guardado, reação ao álcool

Por vezes, imagino ser alguma árvore sem raízes, sede, sombra e chuva

Outras vezes, penso em velejar, bolha de sabão, próprio arco íris, pura cor

Sinto-me como a chama da vela, que segue a direção do vento, contrário

E sem remetente, envio carta selada para destinatário não encontrado

Em tantos outros momentos me torno objeto, de uso raro, frágil

Brinquedo nas mãos de um adulto saudosista, colecionável

Poesia que se forma em mente habilidosa, escritor, admirável

Internet discada, modem quebrado, falta de tecnologia, analógico

Sou poeira invisível que flutua no ar, visível no encontro com feixes de sol

Sou vinho envelhecido em barril de carvalho, safra especial, degustação

Já fui moeda jogada em fonte de água, desejo atendido, visitação

E também cadeado trancado em alguma ponte por aí, celebração

Sei que em breve tudo retornará ao fatídico rumo, normal

Como fogo de artifício em uma noite estrelada, visual

E aí seremos apenas eu, Deus e o tempo, consensual

Eternos companheiros, enquanto não houver ponto, final.

Flavio Marcondes
Enviado por Flavio Marcondes em 03/05/2024
Reeditado em 03/05/2024
Código do texto: T8055594
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