(Re)Dimensão
Tenho certeza que já vivi outras vidas, situações repetidas
Como nômade no deserto, perambulo por mundos, alternativas
Sei que não basta conhecer o caminho, é necessário receio, cuidado
Hoje minha intuição parece faca sem afiação, um tanto cega, fraca
Sou outro ser, empoleirado em velho armário, vinil empenado, exposição ao sol
Mas também posso ser cofre sem segredo, guardado, reação ao álcool
Por vezes, imagino ser alguma árvore sem raízes, sede, sombra e chuva
Outras vezes, penso em velejar, bolha de sabão, próprio arco íris, pura cor
Sinto-me como a chama da vela, que segue a direção do vento, contrário
E sem remetente, envio carta selada para destinatário não encontrado
Em tantos outros momentos me torno objeto, de uso raro, frágil
Brinquedo nas mãos de um adulto saudosista, colecionável
Poesia que se forma em mente habilidosa, escritor, admirável
Internet discada, modem quebrado, falta de tecnologia, analógico
Sou poeira invisível que flutua no ar, visível no encontro com feixes de sol
Sou vinho envelhecido em barril de carvalho, safra especial, degustação
Já fui moeda jogada em fonte de água, desejo atendido, visitação
E também cadeado trancado em alguma ponte por aí, celebração
Sei que em breve tudo retornará ao fatídico rumo, normal
Como fogo de artifício em uma noite estrelada, visual
E aí seremos apenas eu, Deus e o tempo, consensual
Eternos companheiros, enquanto não houver ponto, final.