Cara Bonita
Moço da cara bonita
Do laço de fita
Atado na mão.
Rouba os segredos alheios
Esfrega-os nos laços
Do próprio cordão.
Moço que guarda nos braços
Pequenas migalhas
Do meu coração.
E leva as dores aflitas
Das pobres donzelas
Nos ombros de Adão.
Sacia aqui tua Eva
Gerada às costelas
Na pressa do coito.
E acoita mentiras singelas
Das vidas aquelas
Que se entornam no chão.
Moço da barba mal-feita
Na cama desfeita
Com graça profana.
Enterra com simplicidade
E alguma crueldade
A ilusão de quem ama.
Transforma em mulher a menina
Do ventre saída
Em tempo recente.
Ama com força danada
Minha rima ensaiada
E me crava o dente.
Vai-te cambaleando na rua
Me deixa aqui, nua
Do mal inocente.
À noite, em passos mal dados
Te joga em meus braços:
Te aceito de novo.
Dia seguinte me rendo
Não conheço teu gesto
Não me olha no olho.
Amarra teu laço de fita
Na minha cara bonita
Me aperta o pescoço...
Moço, não fecha a porta
Quero ver-te os quadris
No topo da escada.
Pra sentir-te outra vez aqui dentro,
Tua barba mal-feita
Me deixando marcada.
Moço, tua boca é veneno
Que cola minha pele
Na tua pele suada.
Moço da cara bonita
Dá-me tua vida
E bebe minh’alma.
Dá-me teu corpo no cio
Teu olhar no vazio
Teu amor... e mais nada.