Eis a Consolação da Morte

Jaz aqui

Lar de minhas agonias

Que com suas mãos tão frias

Aprisiona o meu ser

Gelado como um túmulo

Lacrado tal qual um caixão

Onde os únicos que dão o ar da graça

São os vermes da podridão

Acima há estátuas de anjos

E um céu belo azul

Mas os olhos viciados

Enxergam apenas o chão

O fundo do poço

O fim da linha

O cabo da boa esperança

Trazidos no bico do corvo

Ungidos de mágoa e dor

Já sem vida, nem cor

Somos abençoados pelo descanso da morte

É verdade também, entretanto,

Que nem todos desfrutam esta sorte

Pois para alguns ela é um sofrer infernal

Uma eterna flagelação

Mas aos pés do morto resignado, pendurada está

A bonita placa, que diz:

"Não perturbe, eu já morri.

Ignore os pés ambulantes, pois a alma há muito, se desligou"

É

Não há remédio outro,

Senão

O defunto respeitar

As flores que lhe trouxer

Vão murchar e secar

Que nem vai se incomodar

Em contemplar-lhes a beleza e o perfume

Aprendeu a gostar

do chorume

Em que embalsamado

Está

Ouve o tamborilar da pá

Do coveiro ali fora a cavar

Cava cada vez mais fundo

Enterrando mais e mais

É um adormecer

De quem bem se satisfaz

Em evitar sofrer decepção

E já não quer mais lutar, mesmo que pudesse vencer.

Fica ali, portanto

Metido sob a terra

Sete palmos do chão

Chorando o leite derramado

Não admite

Não permite

Não aceita perdoar e esquecer

O que ficou já para trás

Mumificado

Empalhado

Ressecado pelo medo

Jaz.

Maria Carolina Velloso Mello
Enviado por Maria Carolina Velloso Mello em 17/01/2016
Código do texto: T5514261
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