SOLILÓQUIOS DE UM MORIBUNDO.
SOLILÓQUIOS DE UM MORIBUNDO.
E eis-me diante do altar tenebral! Troféu serviçal do universo aos maus;
Deitado em catre níveo, o futuro defunto expecta a morte lhe apresar
Dialogo com a consciência, maluco com razão só pode ser fruto do caos
De uma língua primata surgidas dos urros e evoluiu para embustear
Onde o que é da terra nunca será rei, se aos santos nem com pinga presenteei
Porque minhas guerras arrogantemente eu lutei, e o homem, eu sempre receei.
A vida me foi nascida infeliz, por sorte ator, me disfarçava de feliz
Naquela saudade dos tempos idos o rebelde já era uma criança-adulta
Porem os humanos de antes eram mais viris, os de hoje, tornaram-se imbecis
Geração após geração eu morri vendo a evolução duma sociedade inculta
De pensantes cabeças de plágios, são papagaios ziguezagueantes em bares
Que vomitam no chão uma educação constituída de ditados populares
De uma crueldade que se aprimorou e fez-los troncho habitante do lixo.
Precisaria de dez vidas para pedir perdão a quem cometi erros sem-fim
De cem vidas para me arrepender às pessoas que causei dor por capricho
E de mil vidas para agradecer aos nãos recebidos dos que nunca creram em mim.
Eu não me permito sentir mais nada às pessoas que não gostam da minha pessoa
Visto que como irmão de espécie, estéril de decência,... Todo o mal se aperfeiçoa.
Eu já morri milhões de vezes e não sabia, tentando inteligir colegas de vida
Rotos brinquedos com seus apólogos que se esqueceram de existir
Como tantos ambiciosos que atropelaram a ética para a prostituição bandida
E lamento que vocês tenham de se suportarem com mais vida e coexistir.
O problema não são os objetos que criamos, mas os objetos que nos tornamos
A capa recheada de lombrigas e parasitas é a foto X dos seres que geramos
Deles estamos grávidos! Porem ainda nos permitimos olhar no espelho
E contingenciar a nossa aparência a um modelo de câncer saudável
Isso é pouco para uma raça esquecida na dependência do sangue vermelho
Para quem é muito pobre de senso, é difícil aceitar que é um miserável.
Sinto os olhos dos que me interrogam com assombro, são presas do medo
Medo de saber que um dia também será a resposta para esse segredo
Eu, cá agora, sei a resposta e sem medo, sorrio aos mercadores da ignorância.
Tenho mais estimação aos animais ferozes que aos ferozes animais
O maior criador de deuses para fundar seu império de assassinatos e ganância
Para encarcerar a razão e libertar-se em céus de amantes e bens materiais;
O mundo está tão poluído de seres humanos que a Terra cometerá haraquiri
Há fartado entulho sem valor, escolhos se achando mui precioso quanto o rubi
Mire as estrelas, o universo, e perceba o tamanho da sua insignificância.
Eu não quero que inventem uma cura para a morte, mas sim para a vida
Para que ela flua de corações invés de bocas e gere com ânsia, boa substancia
Uma familiaridade onde a personalidade não tenha vergonha de ser compreendida
Onde as armas usadas não sejam a capacidade de sua bruteza ou superioridade
Mas sim, a simplicidade de um amor verdadeiro e de uma promiscua bondade.
A herança que deixo é filha e neta que parcamente convivi e conheci
É a mulher que piedosamente e pacientemente teve a caridade de me amar
E às criaturas que se julgavam meus amigos, saibam que eu os esqueci
É-me doloroso saber que algum ser vivo pode me julgar mais que precisar
Se os erros foram feitos para se acertar, não acato excelência de idêntica sina
São doutores do não faça o que eu faço, mas faça o que digo, que gente suína!
Na vesperal da agonia não me dêem anestésicos ou palavras de acalanto
A dor me trouxe à vida, deu-me espetadas por onde andei, foi minha concubina
Não me tenham pena! A ela me adaptei,... Já me é muito a frieza do teu espanto
Não quero rezas, velório e farricoco, somente o bisturi para rasgar essa toxina
Um ás para doar o que prestar a outra vida que segue seu caminho de extinção
Que estudem a anatomia das minhas tripas e esqueletos,... E jamais esqueçam o que são.
CHICO DE ARRUDA.