Morte e Vida Bovina

olha só o que foi resto, que sobrou

que recebes tua parte do contrato:

o último golpe de misericórdia,

a chicotada final nesse gado

para esse boi aprender a andar direito

cedo ou tarde você vem para o leito

para vir morar no celeiro eleito

seguir cega na algura monocórdia

seguir o dado e a sorte sem rasura

para viver a loucura concórdia, e

sem discórdia a piedosa censura

este é o redemoinho da nossa jura

este é o círculo que não vai ter cura

e um bebê vai chorar sempre que nasce

e um homem vai chorar sempre que morre

que essas lágrimas são início e fim e tudo

que essa corrente é mãe minha e do mundo

e se deite pra contemplar o fundo

e olhar nosso destino vagabundo

do precipício que é começo e fim

da morte que é um compulsivo “sim”

e um jogo infinito que homens jogam

pra te entregar aos abutres eternos

de negros tempos-espaços-infernos:

são imortais as cruzes que decoram

são tentativas mortas por que oram

são malditas fênix que nos devoram

BebêAzul
Enviado por BebêAzul em 15/03/2018
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