Morte e Vida Bovina
olha só o que foi resto, que sobrou
que recebes tua parte do contrato:
o último golpe de misericórdia,
a chicotada final nesse gado
para esse boi aprender a andar direito
cedo ou tarde você vem para o leito
para vir morar no celeiro eleito
seguir cega na algura monocórdia
seguir o dado e a sorte sem rasura
para viver a loucura concórdia, e
sem discórdia a piedosa censura
este é o redemoinho da nossa jura
este é o círculo que não vai ter cura
e um bebê vai chorar sempre que nasce
e um homem vai chorar sempre que morre
que essas lágrimas são início e fim e tudo
que essa corrente é mãe minha e do mundo
e se deite pra contemplar o fundo
e olhar nosso destino vagabundo
do precipício que é começo e fim
da morte que é um compulsivo “sim”
e um jogo infinito que homens jogam
pra te entregar aos abutres eternos
de negros tempos-espaços-infernos:
são imortais as cruzes que decoram
são tentativas mortas por que oram
são malditas fênix que nos devoram